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Não tenho uns grandes colhões, tenho uns grandes ovários.

Para pequena introdução nesta minha primeira contribuição neste espaço, chamo-me Inês. Sou feminista. Sou pansexual. E sou licenciada e apaixonada por comunicação. É sobre comunicação/linguagem e opressão que quero escrever hoje.

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A linguagem e a língua são um dos elementos da cultura, de qualquer cultura, mais importantes que existe. É a nossa forma de comunicar com o mundo, com as pessoas à nossa volta. É também o elemento mais antigo e mais contínuo da nossa cultura e, portanto, a sua evolução nem sempre acompanha a evolução da sociedade que, apesar de tudo, se vai tornando mais igualitária, bem devagarinho.

Mas a língua e a linguagem são traiçoeiras. O uso do masculino para plural: o todos, os alunos, os professores, os… raios que vos parta.

Mas mais do que isso, são as expressões diárias, já tão naturalizadas, que sempre nos disseram, que sempre dissemos, e que atribuem a fraqueza ao género feminino e coragem e virilidade ao género masculino.

“És uma menina.” (quando dito a homens)

“És um conas.”

“Fogo, como fizeste isso? G’andas colhões!”

“Tens a barba rija”

Também a utilização de adjectivos relacionados com a orientação homossexual, aqui mais notável em homens gays, como insultos. “Epá, que paneleiro / rabeta / bichinha”. Mas, mais uma vez, é porque o sexo e género feminino são fracos. Porque, na mente dessas pessoas, um homem cis ser homossexual é ser mais mulher, e ser mais mulher é ser mais fraco.

Bem sei que há muita gente que utiliza estas expressões (quem nunca?) não o faz por mal ou com consciência de que é esta a base de pensamento que levou à criação destas expressões. Não é por isso que deixa de ser verdade. E devem ser evitadas. A linguagem é cultura e a nossa é machista, muito.

Devem ser evitadas, emendadas, criticadas. Tudo isto e ainda mais. Porque a linguagem é tramada mas o subconsciente é ainda mais. Mesmo que não seja com esse propósito, a repetição destas expressões desde que nos lembramos de ser gente, vai repetindo e gravando estas mensagens:

“És mulher, és fraca”

“És mulher, nunca terás a mesma coragem que um homem, nunca chegarás tão longe porque não tens capacidades para tal”

“A tua orientação sexual é errada, é uma fraqueza tua, um defeito”

E começamos a acreditar nisso, por mais que que achemos que não, mesmo no mais escondido do nosso subconsciente. Nos nossos pensamentos, nas nossas acções, achamos que não iremos conseguir obter algo porque somos fracas. E, muitas vezes, não é personalidade, não é feitio, não é falta de confiança pessoal. É falta de confiança de género.

Já me ignoraram e embirraram comigo, várias vezes, por chamar a atenção e pedir para não utilizarem este tipo de expressões. Chamam-me chata. Dizem-me que sei perfeitamente que não o disseram com esse sentido e para não ser fundamentalista.

Mas sou. E continuo a ser chata. Porque sou mulher. Porque sou forte. Porque não tenho uns grandes colhões, tenho uns grandes ovários.

Da autoria de: Inês RS

One thought on “Não tenho uns grandes colhões, tenho uns grandes ovários.

  1. Subscrevo cada linha do que foi aqui escrito. Que consigamos continuar a ter ovários para contestar o sistema que, de forma mais ou menos intencional, de forma mais ou menos evidente, nos continua a oprimir.

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